Tese - Marcelo Peres de Pinho

Inter-relações entre variáveis bióticas e abióticas e os potenciais conflitos na explotação de recursos renováveis e não-renováveis da bacia de Pelotas

Autor: Marcelo Peres de Pinho (Currículo Lattes)

Resumo

A porção marítima brasileira da Bacia de Pelotas (BP) ocupa uma área de 250.000 km², limitada ao norte pelo alto de Florianópolis no limite com a Bacia de Santos e, ao sul pela fronteira com o Uruguai. É uma área de grande importância econômica e estratégica, pois apresenta alto potencial à presença de recursos minerais subsuperficiais, como petróleo, gás natural (P&G) e hidrato de gás, e também depósitos superficiais, como calcário e fosforita, além da presença de recursos renováveis, com importantes segmentos da pesca comercial. Neste trabalho buscou-se identificar áreas de co-ocorrência de atividades devido à potencial utilização futura concomitante de recursos minerais, energéticos e pesqueiros na BP. Para tanto, foram estudadas as inter-relações entre as variáveis bióticas (densidade acústica biológica e esforço de pesca) e ambientais (distribuição termohalina e a geodiversidade) da região, integradas em um SIG (Sistema de Informações Geográficas) 3D. Dados hidroacústicos e termohalinos oriundos de 23 cruzeiros de pesquisa realizados entre 1995 e 2013 foram utilizados, além de dados de esforço de pesca cedidos pela Indústrias Alimentícias Leal Santos Ltda. Os dados batimétricos e de retroespalhamento acústico de fundo (BSBS) foram obtidos por uma ecossonda cientifica SIMRAD EK500, calibrada, operando na frequência de 38 kHz, totalizando 5.249.191 leituras acústicas em 18.405 milhas náuticas navegadas na BP. O mapa batimétrico 3D, gerado a partir da integração dos dados acústicos à altimetria por satélite, possibilitou a identificação das principais feições de fundo da BP: Vales do Rio Grande, Cone do Rio Grande, Terraço do Rio Grande e o terraço ao largo de Florianópolis. O mapa de BSBS gerado permitiu a identificação de diferentes tipos de fundo, a partir das suas respostas acústicas. Este mapa foi comparado à cartas faciológicas da BP, permitindo a identificação de áreas com altos valores de BSBS sobre fundos considerados duros, como cascalho, cascalho arenoso, cascalho lamoso e conchas e, baixos valores, sobre fundos não consolidados, como lama e lama arenosa. O mapa de BSBS foi comparado a mapas de presença de recursos minerais de importância econômica e estratégica, como calcário e fosforita, observando-se considerável correspondência entre a presença dos mesmos e os altos BSBS. Dados de densidade acústica biológica e de esforço de pesca, além de 552 seções verticais e 1.496 estratos horizontais de temperatura e salinidade foram integrados ao SIG3D. Estes dados possibilitaram a análise das relações entre as altas densidades acústicas e processos de enriquecimento local identificados, como a ocupação da região oceânica por águas costeiras e a ascensão de águas profundas sobre o talude superior e a Plataforma Continental (PC) externa. Por fim, o cruzamento das informações disponíveis, permitiu a identificação de áreas potencialmente conflituosas a partir da criação de um índice de conflito potencial que considerou a sobreposição espacial e temporal, presente e futura, das atividades de exploração de P&G, mineração e pesca na BP. As áreas identificadas distribuem-se ao longo da PC externa e talude superior da região ao largo do Chuí-RS; do Cone do Rio Grande; ao largo de Mostardas-RS; no Terraço do Rio Grande e no terraço ao largo de Florianópolis-SC. Além do suporte à identificação de possíveis áreas de concorrência de atividades na BP, este trabalho poderá auxiliar no subsidio de informações para diagnósticos ambientais, licenciamentos, monitoramento e avaliação de recursos, além de melhorar a compreensão do ambiente marinho da BP. Também poderá ser utilizado por órgãos ambientais como ferramenta de gerenciamento oceânico, auxiliando na definição e reavaliação de diretrizes que devam ser cumpridas por empresas de exploração.

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Palavras-chave: OceanografiaGeoprocessamentoGeodiversidadeBacia de PelotasBrasil